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- Cristina Croce

Emenda de ouro

Kintsugi (emenda de ouro) também conhecido como kintsukuroi (reparo com ouro) é a arte japonesa de reparar uma cerâmica quebrada com pó de ouro.

A filosofia japonesa nos convida a pensar nessa arte de colar com ouro o que se quebrou, dando destaques às rachaduras como um acontecimento na vida do objeto, permitindo que ao invés do seu descarte, sejam destacadas as marcas do imperfeito ou quebrado.

Interessante pensarmos sobre a mensagem que esta arte nos convida a refletir.   

Na vida várias coisas se quebram, como relacionamentos que se desfazem, rompimentos amorosos e profissionais ou até mesmo em nossa relação interior conosco.

Nada dura para sempre, somos seres com potencial de transformação e a cada nova experiência que temos em nossa vida, algo muda em nós.

A forma como pensamos e sentimos ao longo do tempo, vai se transformando conforme nossas vivências acontecem.

Normalmente onde há maior possibilidade de que isso aconteça, é quando se quebra ou se rompe algo, como acontece com um objeto, e é esperado num primeiro momento, que venha uma revolta, um pesar, uma dor, uma pena por isso ter acontecido.

A ato de não descartarmos rapidamente e poder dar a chance de reparar, seja internamente ou externamente, de poder ver que é possível dar um novo lugar para essa vivência é bem importante.

Imaginamos que reparar um objeto, como nesta arte japonesa, vai exigir um trabalho de dedicação e paciência.

Não é diferente em nossa vida, os reparos que precisamos fazer dentro de nós e com nossos relacionamentos exigem muito da gente.

Levam tempo, atenção, paciência ou a falta dela. Exigem um acolhimento conosco para que as emoções que surgirem, sejam quais forem, tenham seu espaço de expressão.

Não dá para reparar tudo de uma vez, dentro de nós existe um caminho interior único e que não controlamos. Esse caminho muitas vezes é de escuta interna e exige tempo e espera.

Mas a cada peça que se encaixa vem junto uma sensação de conquista, mais um passo foi dado em nosso caminhar.

E o caminho de cada peça é sempre diferente e único, nada se quebra ou se cola igual.

Cada um de si pode lidar da sua forma e no seu tempo, o importante é que esse caminho seja de reparo, de cuidado, de desapego ao que já não existe mais.

Que seja um caminho de descoberta dessa nova peça, e que ele tenha uma beleza com destaque em ouro, simbolizando a aceitação dos fatos e uma autovalorização de nós mesmos e de nossa história de vida.

 

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